quarta-feira, 22 de junho de 2011

Adeus

(imagem retirada da net)


Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
 
 
Eugénio de Andrade

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Please don't go...


Ouvi neste jardim...

07/07

Quando penso se faria tudo de novo, não sei responder... Ao teu lado senti-me mais viva do que nunca, mas a dor que ainda sinto é demasiado forte, sinto-a bem dentro de mim, não me deixa respirar fundo.

Dois ou três dias de piadolas e provocações, só para quebrar o gelo, já te conhecia, afinal de contas eras meu colega, mas sem grande confiança. Acabámos por nos tornar os palhaços do grupo. Naquela noite ficámos para trás, a beber mais uma cerveja. Lembras-te? Eu lembro-me como se tivesse sido ontem... No regresso decides arriscar, agarras-me e encostas o teu corpo ao meu, fico entre ti e uma parede... Tenho os olhos fechados, os lábios entreabertos... Tens as minhas mãos nas tuas, mesmo ao teu jeito, de quem sabe o que faz e domina a situação. Estou com sede de ti e tu acabas com ela, naquele beijo sôfrego, quente, cheio de desejo... Um beijo como nenhum outro, que ainda me acelera... Continuas a segurar-me uma das mãos e com a outra começas a sentir o contorno do meu seio, sinto-me a aquecer por dentro, como nunca tinha sentido num beijo. Aquele beijo... Quando voltámos à realidade disse-te que o que se tinha passado ficaria só entre nós: "agora já temos um segredo"... E tu voltaste a beijar-me, com a mesma fome, a mesma ânsia, aquele beijo... Sempre inacabado... Mas tínhamos de voltar, os outros poderiam estranhar a nossa demora.

"Vê lá se te portas bem nesta semaninha de férias longe de mim", disse-me o meu namorado antes de se despedir de mim, depois de passarmos em casa da tua namorada para ir buscar uma coisa qualquer... Ele sabia que tu ias também, parecia que estava a adivinhar...

sábado, 11 de junho de 2011

Fome

Com fome de ti, de te sentir na minha boca, para depois entrares em mim e me fazeres tua...

Preguiça de fim-de-semana...





Prazer em conhecer-vos...

First things first

Quem não teve um amor platónico? Pois eu tive, já lá vão quase 20 anos... Uma miúda de 10 anos a sofrer por amor, até é cómico. E um amor tão inocente, tão lindo, como só poderia ser nestas idades. E que me podia ter ensinado muito sobre a minha maneira de sentir, mas claro que na altura não tinha maturidade para perceber certas coisas... Podia ter ficado logo a saber que tenho uma panca por "cabrões", pelos difíceis, pelos que me fazem sofrer. Como quase todas as mulheres, verdade seja dita. Posso dizer que gostei mesmo do P. Apesar de nunca ter acontecido nada entre nós, de cada um ter seguido a sua vida, 13 anos depois ainda fico meia tola quando o vejo. Talvez seja por isso mesmo, porque nunca o tive e o que podia ter sido nunca passou da minha imaginação. Tanto tempo desperdiçado, em que podia ter aproveitado com menos melancolia os anos da minha adolescência, os tempos do liceu, em que podia ter aprendido muita coisa... Até que 6 (!) anos depois chegou um dia em que parece que tive uma espécie de acordar: amigo, se não gostas de mim, o mal é teu! E pronto, guardei um espacinho para ele, não fosse o rapaz aperceber-se de que eu afinal existia, e decidi começar a viver em função de mim. E foi assim que tudo começou a acontecer.

Dia 0

Tudo um pouco... Pensamentos, desabafos, sem censura e com ditadura. Sou dona e senhora soberana deste meu lugar. Há de tudo. Um pouco de qualquer coisa... Pareceu-me bem, está ao sabor dos meus apetites. Sei que vou fazer muitas viagens pelas minhas memórias... Porque preciso de as arrumar, de não as esquecer, de encerrar capítulos... Reviver boas e más e aprender (ou não!) com elas. Já devia era ter aprendido, certo? Mas nunca é tarde e mais vale tarde do que nunca. O presente é isso mesmo, um presente, uma dádiva. Mas às vezes sinto que não o vivo em pleno, sinto-me agarrada a um passado que quero, mas me custa, deixar para trás. Será isto normal? Sou a única que não se consegue desprender? Bem, a seu tempo saberei, espero...